Lembram do que eu disse sobre cinema ser uma questão de expectativa e posicionamento? Então, The Circle (2017) me fez pensar nisso novamente. E como minha expectativa era baixíssima (vide Rotten Tomatoes), a única coisa que poderia possivelmente estragar esse filme seria o posicionamento. Mas conto mais sobre isso depois.

Em The Circle, a personagem principal vive uma vida que não agradaria muito à todo mundo. Ela sofre em um emprego ruim, sofre em casa com a doença de seu pai e se apresenta como uma personagem não contente com a maneira como sua vida segue. Mas tudo pode mudar quando uma amiga a indica para trabalhar no Circle, uma empresa fictícia inspirada nas startups do Vale do Silício (aka Facebook, Google etc, e com um campus bem parecido com o novo Campus da Apple em Cupertino) liderada por Tom Hanks e seu amigo gordinho.

A verdade é que The Circle se apresenta como mais uma história baseada na dualidade e no maniqueísmo de “O mundo digital X o mundo real”. Nesse ponto, acho que o filme levanta discussões muito importantes sobre a necessidade da privacidade e como a centralização de tudo em uma empresa só, por exemplo, é problemática. Mas acredito que o filme exagera tanto nesses pontos que acaba soando fictício até demais. Não me entendam mal, teoricamente e tecnologicamente falando, quase tudo mostrado ali é possível. Mas o filme faz questão de ignorar fatores externos à empresa, o que fornece ao roteiro uma capacidade incrível de fazer o que quiser. Tudo isso aliado à uma flexibilização da linha do tempo do filme, que dá ainda mais liberdade à empresa.

Outro item que não pode ficar de lado são as atuações. É impossível sentir qualquer tipo de empatia por Emma Watson, assim como o garoto monocelha do Boyhood e a amiga da personagem principal. John Boyega tá lá, mas se não estivesse teria o mesmo, talvez uma péssima escolha. O único que se salva é, sem dúvida, Tom Hanks. O que me faz pensar que talvez o problema seja a direção de atores e não eles per si.

Resumindo, a previsibilidade e a exacerbação me fazem ver o filme como uma sátira atualizada ao que George Orwell propôs em 1984 e, como uma sátira, vejo o filme como válido.

Nota (de 0 a 5): 2 (só vale a pena se você realmente não tiver nada melhor pra assistir)

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